Jayme Trigueiro Compositor
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
AINDA DA TEMPO.....ANTES DE CRITICAR ESTUDE...APRENDA..REFLITA...E ACIMA DE TUDO......RESPEITE"!
Samba, metalinguagem e
metadiscurso
André Nemi Conforte (UERJ)
Felizmente, o samba, como objeto de estudo, já não sofre
mais restrições por parte da Academia. Por ser este gênero uma das maiores
formas de representação da cultura brasileira, não pode deixar de ser
considerado importantíssima fonte de análise, seja esta lingüística, histórica
ou cultural.
Em meu estudo, busquei estudar as letras de samba nas quais
se observasse a ocorrência da função metalingüística, conforme descrita por
Jakobson (1969). Nessa busca, pude identificar até o momento três tipos de
metalinguagem, a saber:
1-
o chamado metasamba – definição já utilizada n’A Linguagem
Nossa de Cada Dia, de André Valente (1997), em que a composição parte de um
ponto de vista histórico; em geral, cantam-se as glórias e mazelas do gênero,
desde que os primeiros ex-escravos e descendentes de escravos começaram a
realizar suas rodas na praça onze, até os dias atuais, em que, ao mesmo tempo em
que, tendo conquistado fama nacional e mundial, o samba sofre certo processo de
descaracterização. Neste caso, o código é o próprio samba enquanto gênero
musical que comenta a si mesmo. Como exemplo, podemos citar a composição
Tempos idos (1977), de Cartola e Carlos Cachaça, em que a história
do gênero é contada desde a época da Praça Onze, com um misto de saudosismo e
otimismo:
Os tempos idos, nunca esquecidos
Trazem saudades ao recordar
É com tristeza que relembro
Coisas remotas que não vêm mais
Uma escola na Praça Onze, testemunha ocular
E perto dela uma balança
Onde os malandros iam sambar
Depois aos poucos o nosso samba
Sem sentirmos se aprimorou
Pelos salões da sociedade
Sem cerimônia ele entrou
Já não pertence mais à Praça
Já não é samba de terreiro
Vitorioso ele partiu para o estrangeiro
Foi muito bem representado pela inspiração
De geniais artistas
O nosso samba, humilde samba
Foi de conquistas em conquistas
Conseguiu penetrar no municipal
Depois de percorrer todo o universo
Com a mesma roupagem que saiu daqui
Exibiu-se pra duquesa de Kent no Itamaraty
É com tristeza que relembro
Coisas remotas que não vêm mais
Uma escola na Praça Onze, testemunha ocular
E perto dela uma balança
Onde os malandros iam sambar
Depois aos poucos o nosso samba
Sem sentirmos se aprimorou
Pelos salões da sociedade
Sem cerimônia ele entrou
Já não pertence mais à Praça
Já não é samba de terreiro
Vitorioso ele partiu para o estrangeiro
Foi muito bem representado pela inspiração
De geniais artistas
O nosso samba, humilde samba
Foi de conquistas em conquistas
Conseguiu penetrar no municipal
Depois de percorrer todo o universo
Com a mesma roupagem que saiu daqui
Exibiu-se pra duquesa de Kent no Itamaraty
Outros metasambas dignos de destaque: Agoniza mas não
morre, de Nelson Sargento, Prá que discutir com madame, de Haroldo
Barbosa e Janet de Almeida, Visual, de Neném e Pintado, Eu canto
samba, de Paulinho da Viola, Bum bum paticumbum prugurundum, de Beto
sem Braço e Aluísio Machado, Influência do Jazz, de Carlinhos Lira etc.
2-
O samba de natureza metapoética – em que o compositor descreve
como se dá sua inspiração; tipo de samba muito comum, parece refletir um anseio
do compositor em externar o processo de composição – “A palavra, matéria-prima
da arte poética, fascina os poetas e convida-os a reflexões sobre a importância
dela para a poesia. Para eles, a palavra torna-se o grande desafio dos que fazem
poemas” (VALENTE, 1997). Nesse caso, ocorre metalinguagem no plano lírico, isto
é, o samba comenta o próprio processo de composição, da mesma forma como se dá a
metapoesia em, p. ex. Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Em
suma, o sambista se assume como poeta, unido a este pelas mesmas musas
inspiradoras. Um compositor muito prolífico neste tipo de sambas é Paulinho da
Viola. Dele, destacamos Quando bate uma saudade, em que as desilusões
amorosas são tomadas como Leitmotiv para a inspiração:
Vem, quando bate uma saudade
Triste, carregado de emoção
Quão aflito quando um beijo já não arde
No reverso inevitável da paixão
Quase sempre um coração amargurado
Pelo desprezo de alguém
É tocado pelas cordas de uma viola
É assim que um samba vem
Quando o poeta se encontra
Sozinho num canto qualquer do seu mundo
Vibram acordes, surgem imagens
Soam palavras, formam-se frases
Mágoas, tudo passa com o tempo
Lágrimas – são as pedras preciosas da ilusão
Quando surge a luz da criação no pensamento
Ele trata com ternura o sofrimento
E afasta a solidão
Quão aflito quando um beijo já não arde
No reverso inevitável da paixão
Quase sempre um coração amargurado
Pelo desprezo de alguém
É tocado pelas cordas de uma viola
É assim que um samba vem
Quando o poeta se encontra
Sozinho num canto qualquer do seu mundo
Vibram acordes, surgem imagens
Soam palavras, formam-se frases
Mágoas, tudo passa com o tempo
Lágrimas – são as pedras preciosas da ilusão
Quando surge a luz da criação no pensamento
Ele trata com ternura o sofrimento
E afasta a solidão
Outros sambas igualmente representativos: O poder da
criação, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro; Samba da Bênção, de
Vinícius de Morais e Baden Powell, Peregrino, de Toninho Nascimento e
Noca da Portela etc.
3-
Como último tipo, identificamos o samba metalingüístico propriamente
dito, de menor ocorrência – neste, o sambista utiliza o código Língua
Portuguesa para descrever aspectos da própria língua. O exemplo que
utilizamos é Linguagem no Morro, de Padeirinho e Ferreira dos Santos. É
digno de nota o tom de glossário que assume este samba:
Tudo lá no morro é diferente
Daquela gente não se pode duvidar
Começando pelo samba quente
Que até um inocente sabe o que é sambar
Outro fato muito importante
E também interessante
É a linguagem de lá
Baile lá no morro é fandango
Nome de carro é carango
Discussão é bafafá
Briga de uns e outros dizem que é burburim
Velório no morro é gurufim
Erro lá no morro chamam de vacilação
Grupo do cachorro em dinheiro é um cão
Começando pelo samba quente
Que até um inocente sabe o que é sambar
Outro fato muito importante
E também interessante
É a linguagem de lá
Baile lá no morro é fandango
Nome de carro é carango
Discussão é bafafá
Briga de uns e outros dizem que é burburim
Velório no morro é gurufim
Erro lá no morro chamam de vacilação
Grupo do cachorro em dinheiro é um cão
Papagaio é rádio
Grinfa é mulher
Nome de otário é Zé Mané
Nome de otário é Zé Mané
Mas há ainda os sambas que tocam em outras questões
da língua, como p. ex, os estrangeirismos – Não tem tradução, de Noel
Rosa, Eu não falo gringo, de João Nogueira, e A neta de Madame
Roquefort, de Nei Lopes e Rossini Lopes; ou sambas que explicam expressões
regionais, receitas culinárias africanas (Dorival Caymmi é um dos maiores
exemplos) e até mesmo toponímia (Maxambomba e Sapopemba, de Nei Lopes e
Wilson Moreira) – sempre que estes sambas empregarem um certo tom didático,
ainda que implícito, no trato da língua (mais comumente do léxico), teremos
metalinguagem propriamente dita.
Levando-se ainda em consideração a consciência com que o
paulista Adoniran Barbosa empregava os “erros de português” em seus sambas,
pode-se considerar que suas composições carregam em si uma metalinguagem
implícita, como que a clamar: “Vejam, é dessa maneira que as camadas mais
desfavorecidas da população falam”. Essa intenção fica clara nas entrevistas
concedidas por Adoniran, em que ele declarava “não ser nada fácil escrever
errado” (ROCHA, 2000)
Metalinguagem ou metadiscurso?
Nos estudos sobre os modos de organização do discurso, somos
apresentados ao modo enunciativo, voltado para o próprio discurso, constituindo,
portanto, uma função metadiscursiva. Isto faz com que alguns teóricos se
perguntem se, muitas vezes, não estamos chamando de metalinguagem o que na
realidade é metadiscurso. É importante lembrar que na metalinguagem temos o
código voltado para si mesmo, mas não podemos nos esquecer de que código não é
somente a língua, mas as diversas linguagens: cinema, quadrinhos, etc. portanto,
o próprio samba sendo utilizado para cantar a trajetória do samba pode ser
chamado de metasamba. Quando se referir ao processo poético, estaremos
falando de uma metapoesia, porém realizada musicalmente como samba. E
muitas vezes, o compositor fala do ato de compor samba, e não outro
gênero.
Mas há caso de sambas em que realmente ocorre o metadiscurso,
por exemplo, a fala com que Paulinho da Viola introduz o samba já apresentado
(Esta é a minha homenagem aos poetas do samba, e àqueles que carregam com
todo carinho sua chama). O demonstrativo este chama a atenção ao
discurso, no caso, o samba a ser cantado, que se iniciará em seguida. Vejamos
este outro exemplo em Mas que Nada, de Jorge Ben:
Este samba é misto de Maracatu
É samba de preto-velho, samba de preto-tu
Mas que nada, samba como este, tão legal
Você não vai querer que eu chegue no final?
Mas que nada, samba como este, tão legal
Você não vai querer que eu chegue no final?
Segundo Charaudeau e Maingueneau (2004),
O locutor pode,
a qualquer momento, comentar sua própria enunciação no interior mesmo dessa
enunciação: seu discurso é recheado de metadiscursos. É uma das
manifestações de heterogeneidade enunciativa: ao mesmo tempo em que se realiza,
a enunciação avalia-se a si mesma, comenta-se, solicitando a aprovação do
co-enunciador (“se me permitem dizer”, “para dizer exatamente”, “antes de tudo”,
“quer dizer que...”).
Isto nos leva à reflexão de que o modelo jakobsoniano carece
de alguma revisão, uma vez que há que se descobrir um lugar para a função
metadiscursiva, que incide sobre a mensagem, ao passo que a função
metalingüística incide sobre o código. No mais, é reconhecer que
aquela, representada no modo enunciativo de organização do discurso, é muito
freqüente não somente nas letras de samba, como em qualquer discurso; o
importante é sabermos distinguir claramente quando estamos diante de uma função
ou de outra.
Antes de encerrar este artigo, demonstro um caso (aliás,
raro) de samba (alguns dirão bossa-nova, mas bossa-nova, em última análise, é
samba) em que ocorre a predominância da função metadiscursiva ou do modo
enunciativo de organização do discurso: trata-se do Samba de uma nota só,
de Tom Jobim e Newton Mendonça. Note-se o caráter intersemiótico da
composição, uma vez que, todo o tempo, o eu-lírico chama a atenção para os
aspectos musicais que se dão concomitantes ao que é dito:
Eis aqui este sambinha
Feito de uma nota só
Outras notas vão entrar
Mas a base é uma só
Essa outra é conseqüência
Do que acabo de dizer
Como eu sou a conseqüência
Inevitável de você
Quanta gente existe por aí
Que fala tanto e não diz nada, ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala
E no final não sobrou nada
Não deu em nada
E voltei prá minha nota
Como eu volto prá você
Vou contar com a minha nota
Como eu gosto de você
E quem quer todas as notas
Ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma
Fica numa nota só
Outras notas vão entrar
Mas a base é uma só
Essa outra é conseqüência
Do que acabo de dizer
Como eu sou a conseqüência
Inevitável de você
Quanta gente existe por aí
Que fala tanto e não diz nada, ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala
E no final não sobrou nada
Não deu em nada
E voltei prá minha nota
Como eu volto prá você
Vou contar com a minha nota
Como eu gosto de você
E quem quer todas as notas
Ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma
Fica numa nota só
Por fim, devemos alertar que é preferível, e
metodologicamente mais correto, classificar os sambas metalinguisticos como
tipos de samba, e não como gêneros textuais, uma vez que não
constituem produtos culturais, e que ninguém entraria em uma loja de discos para
pedir um CD de “sambas metalinguisticos”[1]. O samba, sim, em seus mais
variados tipos, é gênero textual dos mais ricos e deve ser amplamente
utilizado no ensino não somente de língua portuguesa, mas de história,
geografia, sociologia e quantas mais disciplinas a capacidade e inventividade do
professor permitir.
Referências
bibliográficas
CHARAUDEAU, Patrick &
MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. Tradução
(coord.) de Fabiana Komesu. São Paulo: Contexto, 2004.
JAKOBSON, Roman. Linguística e
Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1969.
ROCHA, Francisco. Adoniran
Barbosa: o poeta da cidade. São Paulo: Atelier, 2000.
VALENTE, André Crim. A linguagem
nossa de cada dia. Petrópolis: Vozes, 1997.
[1] Estas e outras informações acerca de
gêneros textuais e metadiscursividade, pude desenvolvê-las em conversas mais ou
menos informais com o professor Helênio Fonseca de Oliveira, da UERJ. A ele,
meus sinceros agradecimentos. As demais informações sobre metalinguagem, foco de
meu estudo, devo-as ao professor André Crim Valente, meu orientador no
Mestrado.
........................................................................................................................................................... |
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Lingüísticos
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terça-feira, 27 de setembro de 2011
LETRA DO SAMBA 2012 PÉROLA. NEGRA.
A C E S
PEROLA NEGRA SUZANO 2012
A C E S PÉROLA NEGRA SUZANO 2012
JAYME TRIGUEIRO & LUCIANO RIBEIRO
VAI ILUSTRAR NO
CARNAVAL,
A LINDA HISTÓRIA DE UM
POVO LUTADOR,
QUE DO SUOR FEZ NASCER,
RIQUEZAS E O PROGRESSO
FLORESCER,
DAÍ ENTÃO O QUE SE VIU,
UM NOVO TEMPO NA
HISTÓRIA DO BRASIL,
SURGIU, COM AS LAVOURAS
DE CAFÉ,
SE FEZ BROTAR O
DESPERTAR DE UMA FÉ,
VIROU TESOURO,
DO PARAÍBA ESSE VALE É
OURO!
NESSA VIAJEM
ME ENTREGUEI, MEU PAVILHÃO ILUMINEI,
VIREI SAMBISTA POR INTEIRO, RUMO
AO RIO DE JANEIRO! (BIS)
LOBATO, O SEU SÍTIO CONSAGROU
Ô Ô,
COM JECA MAZAROPPI
EMOCIONA UMA NAÇÃO,
COM HEBE CAMARGO, UM NOVO MOMENTO,
NO RADIO E NA TV TODO TALENTO,
NA ARTE A BELEZA ARQUITETURA,
MOVIMENTOS CULTURAIS,
OS FRUTOS QUE BROTARAM PARA O MUNDO,
PERSONAGENS GENIAIS,
RIO SAGRADO ONDE SURGIU A PADROEIRA,
MINHA
PÉROLA PAIXÃO PRA VIDA INTEIRA,
CANTA O VALE A EMOÇÃO,
ORGULHO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA!
HOJE SOU MONTE CRISTO, EU SOU,
ALVINEGRO
E VERMELHO VEM SER TAMBÉM, (BIS)CANTA COMUNIDADE SUPERAÇÃO, O ORGULHO DE SER CAMPEÃO!
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
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